“As pessoas dizem: Adelmo Genro, advogado. Adelmo Genro, professor. Que nada, Adelmo Genro é santa-mariense”. Assim o professor, advogado, escritor, político e então colunista de A Razão, Adelmo Simas Genro, um são-borjense de nascença, se definiu em um documentário realizado pela TV Câmara de Santa Maria na ocasião que recebeu o título de “Cidadão Santa-mariense” pelo Legislativo Municipal, em 2002.
Esse texto, entre outros, está inserido no sexto livro do promotor João Marcos Adede y Castro – Adelmo Simas Genro: um defensor da democracia e dos direitos humanos – e traça a obra e a biografia de um dos mais importantes personagens das últimas décadas em Santa Maria e região, examinando suas origens familiares, sua trajetória como professor, suas obras poéticas, crônicas e contos, além de falar de sua história como advogado destacado e político de grande importância, além de ser uma figura humana ímpar, que deixou muitos amigos e admiradores por onde passou.
“O livro surgiu do doutorado de Ciências Jurídicas que estou fazendo em Buenos Aires. O professor me sugeriu como tema uma história ou um fato que envolvesse o mundo do direito. Aí, tive a ideia de escrever sobre o Adelmo. Apresentei como trabalho na disciplina e, depois, acrescentei outros textos melhorando algumas partes. Assim, se tornou um livro”, ressaltou Adede y Castro.
O autor levou seis meses entre a pesquisa e a impressão da obra. Por três vezes, esteve visitando a esposa do biografado, Dona Elly, que lhe franqueou o próprio arquivo de Adelmo. Entrevistou duas de suas três filhas, e o filho ministro, Tarso. Resgatou fotos de sua infância e juventude, pesquisou documentos políticos na Polícia Federal e colheu depoimentos de amigos, admiradores, correligionários e colegas, como Agueda Brazzale Leal, Pedro Brum Santos, Aristilda Requia e Ligia Militz da Costa, entre outros.
“Só gostaria de ter tido acesso aos processos da época da revolução (1964), mas não obtive êxito na Justiça Militar de Santa Maria. Não sou um historiador, mas, pretensiosamente, não ficou ruim”, enfatizou, humildemente, o escritor, que também é imortal da Academia Santa-Mariense de Letras. Na verdade, ficou muito bom. “Eu já o admirava. Ele me impressionava muito pelo que escrevia nos jornais.
Era um leitor assíduo dos textos dele, embora o conhecesse apenas superficialmente. O acompanhei em algumas audiências na Promotoria. Hoje eu o admiro muito mais”, enfatizou Adede y Castro.
A obra foi editada pela Editora Palloti, conta com 127 páginas e já está a disposição na Cooperativa dos Estudantes de Santa Maria (CESMA), Livraria da Mente do Calçadão e Livraria Nobel do Carrefour. Boa leitura.
O autor:
João Marcos Adede y Castro é graduado em Direito, em 1979, pela Universidade Federal de Santa Maria, sendo Mestre em Integração Latino Americana, pela mesma Universidade, em 2001. É doutorando em Ciências Jurídicas e Sociais, pela Universidade del Museo Social Argentino, de Buenos Aires. É Promotor de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul há 25 anos, exercendo desde 1989 as atribuições de Promotor de Justiça Especializada de Defesa Comunitária, com atuação preponderante nas áreas de defesa do meio ambiente, interesses sociais e coletivos e improbidade administrativa. É Professor Universitário, na Ulbra Santa Maria, nas disciplinas de Processo Civil e Direito Ambiental. Adelmo Simas Genro: um defensor da democracia e dos direitos humanos é o sexto livro do autor, que também pertence a Acadêmia Santa-Mariense de Letras
No Meu Entardecer
*Adelmo Simas Genro
A carreta está esperando
Ali na beira da estrada
Que façam o meu despacho
Para última jornada.
Mas antes de tudo peço
(Faço questão que se cumpra!)
Que cuidem da minha velha
Meu amor e minha amiga,
Minha companheira de briga
Quando forem visitá-la
No canto que vai ser seu,
Afaguem os seus cabelos,
Acarinhem suas mãos,
Ela vai pensar que sou eu.
Quem sabe no meu viver
Fui avarento demais,
Soneguei muitos agrados
Que ela fez por merecer…
Meus filhos, sei que não fui
Um pai de gênio especial,
Por isto peço perdão
Se alguma coisa fiz mal.
Mas amei a vocês todos
Com a força do coração.
Meus olhos nunca espelharam
Muito amor, muita emoção…
Vêm de longe a timidez,
Meus suspiros e meus ais,
São heranças qu´eu herdei
Dos meus velhos ancestrais.
Se choro, choro escondido;
Se rio disfarço bem,
Nunca quis ser surpreendido
No meu sentir, por ninguém.
Agora o silêncio impera,
Sepulta o que já foi dito.
Me planto quieto na espera
Dos mistérios do infinito.
Se de mim vocês lembrarem,
(E para lembranças tê-las)
Pensem sempre que este velho,
Já diluiu nas estrelas.
Agora, digo aos meus netos:
-De fato, chegou a minha vez,
Mas não vou embora “de todo”,
Viverei sempre com vocês…
*Dias antes de sua morte, Adelmo escreveu este poema em homenagem à esposa Elly, aos filhos e aos netos, que parece mais um testamento, e que merece ser reproduzido por sua beleza e demonstração de amor a família. João Marcos Adede y Castro o transcreveu na íntegra em seu livro “Adelmo Simas Genro – Um defensor da democracia e direitos humanos”, página 67.