Memorando mandou listar nomes de professores e estudantes israelenses em apoio à causa palestina
Uma queixa crime movida pelo renomado jornalista, filósofo e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luis Milmann, contra a Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), por suposta prática de racismo, agitou os bastidores da universidade nesta quarta-feira. Milmann acusa a instituição de promover perseguição e atitude racista, ao pretender “listar” os nomes de alunos e professores israelenses dos cursos de pós-graduação.
A determinação teria partido do pró-reitor de Pós-Graduação, José Fernando Schlosser, quando no dia 15 de maio fez circular um memorando (confira ao lado a versão original do documento) solicitando a todos os chefes de programas de pós-graduação uma relação de alunos e professores israelenses que participam destes cursos, “para finalidade de boicote”, acusou o jornalista.
Milmann cita em sua manifestação que o memorando teria sido enviado para atender solicitações que teriam sido feitas pelo Diretório Central de Estudantes (DCE), Seção Sindical dos Docentes da UFSM (Sedufsm), Associação dos Servidores da UFSM (Assufsm) e pelo Comitê Santamariense de Solidariedade ao Povo Palestino.
“Estão colocando estrelas amarelas no peito de israelenses em contato com a instituição, em conluio com organizações terroristas islâmicas”, disparou o jornalista. Ele invoca a Constituição Federal, que na Lei 7.716, de 1989, em seu artigo 20, dispõe: “Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional… Constituindo-se em crime gravíssimo, imprescritível, inafiançável e insuscetível de graça”.
A queixa crime foi protocolada junto ao Ministério Público Federal do Rio Grande do Sul, à Polícia Federal de Santa Maria, ao Reitor da Universidade Federal de Santa Maria, ao ministro da Educação, ao ministro das Relações Exteriores, e à presidente da República, para providências, além de comunicado para a Embaixada de Israel no Brasil, presidente da Federação Israelita do Rio Grande do Sul e Movimento de Justiça e Direitos Humanos.
Reitor se manifestou
A administração da UFSM manifestou-se na noite de quarta-feira (3) sobre a notícia de crime contra o pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa. Em agosto de 2014, diz a nota, a universidade recebeu solicitação de informações da Assufsm, Sedufsm), DCE e dos demais integrantes do Comitê Santamariense de Solidariedade ao Povo Palestino. Uma delas tratava sobre “a presença ou perspectiva de discentes e/ou docentes israelenses nos programas de pós-graduação”
A Reitoria, atendendo à Lei de Acesso à Informação (nº 12.527/2011), encaminhou, em maio de 2015, um memorando para suas unidades. A Pró-reitoria de Pós-graduação e Pesquisa, por sua vez, o remeteu aos cursos de pós-graduação para obter os subsídios necessários à resposta.
Ocorre que a intenção do memorando foi questionada e polemizada, ao circular pela internet e afixada em murais uma versão adulterada, contendo os dizeres “Freedom for Palestine – Boycott Israel” (Liberdade para a Palestina, boicote a Israel).
Diante do fato, o reitor da UFSM, Paulo Afonso Burmann, reitera que o documento é “inverídico e fraudulento” e que os responsáveis pela fraude e disseminação serão identificados. Complementa ainda que, encaminhando o documento original, a Instituição apenas cumpriu a Lei de Acesso à Informação.
Também ressalta que a UFSM jamais tomaria posição em relação a um conflito internacional histórico. “A Universidade não tem esta característica sectária e jamais terá. Somos uma instituição laica, onde a diversidade e o respeito às opiniões constituem a sua origem”, afirma. A administração central informa também que as medidas necessárias para esclarecimento do fato serão levadas à Polícia Federal para investigação. (Informações da UFSM)