Maior referência quando se fala em Rock na cidade, magrão Pylla vai estrear no Treze no dia 20
Hoje é Dia Mundial do Rock. E não precisei ir muito longe para buscar uma lenda do estilo. Pylla Kroth é reconhecido em cada esquina que passa. Vocalista da saudosa banda Fuga, ícone musical do início da década de 1990, ele hoje segue em carreira solo, acompanhado da talentosíssima banda Carbono 14. O lançamento de “Lá de Volta Outra Vez” marca a primeira vez que o músico vai comandar um show inteiro no palco do Theatro Treze de Maio, no dia 20 de julho, às 20h.
Eu conheci o som do Pylla ainda vinilizado no disco “Crime ao Vivo”, com meus 12 anos. Uma pilha de discos que misturava The Cure, Skid Row, Elton John, Kiss, Legião Urbana, Fuga e muitas outras coisas que meu tio ouvia na casa da minha avó materna. Era início dos anos 90 e as rádios FM locais ainda se davam o direito de tocar músicas de bandas da cidade. E Santa Maria, por sua vez, vivia o processo final das bandas que se criaram na década anterior. O “Elo Um” era tocado no Estado. Pylla e sua banda viajavam e conquistavam o público gaúcho. Após um grande hiato, o cabeludo de voz aguda voltou das cinzas com seu rock para lá de característico. Foram quatro discos e muitos shows. “Tem cidade em que eu já toquei cem vezes, pode acreditar. A Fuga tocou em 172 cidades do Estado. O povo que curte o Rock’n’roll vai no meu show e canta as músicas”, afirma Pylla, sentado em frente ao Theatro Treze de Maio.
Uma conversa com o magrão pode durar uma viagem a pé do Condado até Mordor. De causos de treta com Lobão, conversa com Renato Russo, bruxarias, shows homéricos em cidades do interior, ele não para. Afinal, são 35 anos de carreira, incontáveis shows. Mas, agora, Pylla prepara o lançamento de seu disco “Lá de Volta Outra Vez”. “Eu sou aficcionado pela literatura, cinema e quadrinhos, e o J. R. R. Tolkien usa essa frase nos livros do Senhor dos Anéis. E o Rio Grande do Sul é o meu país. Eu acabo voltando sempre lá na cidade que eu já toquei 30 vezes. Eu estou sempre de volta, sempre indo lá fazer um Rock. Daí saiu o nome do disco. Assim como um próximo disco seria “Obrigado”, porque eu falei para a banda que esse era o último, mas eles disseram que vão me obrigar a gravar mais”, conta o músico.
ROCK COM SOTAQUE GAÚCHO
Márcio Grings, que é colunista de A Razão, é o produtor do show no Treze e avalia a carreira e o novo disco de Pylla. “Quando saiu o disco da Fuga com “Hey tu que vive a vida”, foi uma coisa muito falada na época. Era um Rock com sotaque gaúcho, que não falava em você, falava em tu. E a banda ganhou um espaço na mídia estadual por esse estilo, por essa cara rio-grandense”, lembra Grings.
Segundo o produtor, dentro da trajetória do Pylla há muito material que foi mal gravado em função das condições da época. “Ele chega agora num momento de maturidade na própria forma de gravação, com a ajuda do Leo Mayer. Talvez esse seja o trabalho mais redondo, mais amarrado em todos os aspectos, tanto técnicos quanto de conteúdo intelectual. Ele fecha um ciclo bem legal”, analisa.
Pylla, por sua vez, fala da obra como uma saída da regionalidade do som. “Uma coisa que eu sofri muito em fazer música no interior era essa característca de que as pessoas reconhecem onde a música foi gravada, tipo “isso foi feito em Santa Maria”, esse disco quebra essa marca. Agora as pessoas vêm me perguntar se não gravei no Rio de Janeiro, ou se foi mixado no exterior. Esse acesso à tecnologia daqui, esse estudo que a gente desenvolveu, foi determinante. Fomos com tudo para esse disco com a certeza que a gente tinha aqui o necessário para fazer, todos os ingredientes. A tecnologia está na mão de todos, mas aqui a gente tem quem sabe usar”, comenta o vocalista.
Legado e certeza
Para Márcio Grings, Pylla é um cara que tem o legado do Rock de Santa Maria dos anos 80 e 90. “De alguma forma isso está muito presente no disco, seja com parceiros que ele traz desde aquele tempo, remontando canções de bandas que nem deram certo. Esse legado continua vivo há muito tempo em todos os discos dele, e está presente nesse último. Há uma coerência artística nas obras desde a Fuga. Se você perceber hoje, os temas que ele cantava na Fuga também são falados nesse disco. Tem política, sobre o que acontece no mundo, essa atemporalidade continua ainda. O material tem muita relevância”, avalia o produtor.
O magrão revela que as músicas de sua carreira sempre foram compostas de forma convicta e são atemporais. “Tinha coisas na composição que sempre tive certeza. Eu nunca estive enganado quando a gente compôs “Sentimento Perdido”, há 25 anos. Tinha a preocupação social com a fome. Nunca tive dúvida do que queria dizer, e tudo que tinha lá na gaveta e que eu tinha certeza. Eu falo do amor, falo do dissabor e até daquele que não mereceria uma música. Eu falo do nosso jeito de ser, sabe? Nós somos muitos, somos vários, somos um bando. Eu, como artista, tenho a possibilidade de tentar mudar as coisas, senão no mundo, pelo menos à minha volta”, declara o músico.
O SHOW NO TREZE
Pylla conta que só cantou uma música no Treze, como convidado. “Aliás, eu nunca imaginei o Rock assim no teatro. Mas aí, em Santa Maria, com os novos tempos, as coisas começaram a acontecer e acabei vindo em dois, três shows de Rock. Mas nunca tinha ventilado a possibilidade de tocar no teatro e ver essa coisa do camarim, da cortina abrindo. Faço questão que essa cortina se abra, todo artista quer esse momento para expor toda a magia da música que a gente vai fazer ali. Nem sei a quantas vai bater meu coração nessa hora”, afirma o cantor.
O show do dia 20 de julho vai contar com diversos convidados importantes. Pylla vai juntar, após muito tempo, seus colegas de Fuga, Rafael Ritzel (compositor da letra de “Saudade”) e Gonçalo. Ainda participam Renato e Marcos Molina, Pinttoo, Débora Rosa, Fernanda Junges, Daiane Diniz, Batavo, Adriano Zuli e Diego Pignataro.
“SANTA MARIA É MINHA MÃE”
Pylla fala de Santa Maria com muito carinho. “Nas horas boas ela me aplaude, nas ruins ela me levanta da sarjeta, quando eu estou com fome ela me dá comida. É um tipo de relação que eu associo muito à minha mãe. Santa Maria é minha mãe, ela me adotou como filho e eu adotei ela como sendo minha. Eu converso com todo mundo, do cara mais rico ao cara mais pobre, e não faço diferença nenhuma de valor. A cidade é minha família, aqui eu toco em casa, para os meus amigos”, declara emocionado.
O músico finaliza explicando o porquê ele batizou Santa Maria como a cidade do rock. “Ela absorve todo mundo que não sabe nada e vem descobrir aqui a que veio na vida. Entrando na academia, a pessoa se depara com várias ideias, várias situações que não eram bem como tinha aprendido em casa. Que morar sozinho é diferente, que tem talento e aptidão para alguma coisa. Daí vem a sociedade para você enfrentar. E você começa a enfrentar, e nesse grande confronto, vai existir a descoberta, e isso é Rock’n’roll. É protestar contra tudo isso, o rock tem muito a ver com atitude. E as pessoas, quando chegam aqui, tomam atitude”, finaliza.
Foto da capa: Grings Memorabilia