Literatura – Jovem poeta independente se destaca com o projeto Febre de Rato e terá livro lançado
Você provavelmente não o conhece, mas é bem possível que já tenha visto alguma poesia sua por aí, em um muro, um poste, ou mesmo pela internet. Ainda que raramente assine os textos com seu nome de batismo, costuma utilizar o pseudônimo J. Rowstock e, em alguns casos, lança mão do título de seu projeto, o “Febre de Rato”. Quem lê seus poemas marginais, se pergunta quem seria a figura por trás do autor “sem rosto”. E, embora seja um jovem de apenas 20 anos, o acadêmico do curso de Letras da UFSM, Josué Feltrin, vê sua idéia crescer a cada dia e, após muito esforço e alguns “nãos”, prepara-se para o lançamento de seu primeiro livro de poesias. O Jornal A Razão bateu um papo com o jovem, mas já experiente poeta.
A Razão – Como surgiu o interesse em escrever poesias e, consequentemente, o Febre de Rato?
J. Rowstock – Fui vocalista de uma banda grunge, a Rivotril, e escrevia a maioria das letras. Comecei a ler poesia enquanto ainda fazia parte da banda, isso me ajudava a compor não apenas músicas, e aí comecei a explorar esse lado mais poético. No início resolvi postar alguma em um blog, mas rapidamente migrei para o Facebook devido ao seu maior alcance, aí já como Febre de Rato.
A Razão – Por que chamar o projeto de “Febre de Rato”? E qual o significado de “Rowstock”?
J. Rowstock – Há um filme brasileiro chamado Febre do Rato, do diretor Claudio Assis, que conta a história real de um poeta anarquista chamado Zizo. Ele passava em um carro aberto recitando seus poemas pela cidade, para quem quisesse ouvir. Também me considero um poeta nessa linha, anarquista, devido ao conteúdo de minhas poesias e pela abordagem mais underground. Já o Rowstock é uma junção de nomes: “rows” vem de rock’n’roll, significa atitude, e o “stock” vem de Woodstock, tem a ver com liberdade.
A Razão – Levar o Febre de Rato ao Facebook trouxe resultados imediatos?
J. Rowstock – Foi tudo muito rápido. Não demorou muito, pessoas de São Paulo começaram a entrar em contato comigo, depois de outros estados. Em geral, outros poetas undergrounds, sem muito alcance, me enviavam seus trabalhos, alguns zines… E tudo por meio de cartas, o que é mais interessante. Gosto de manter essa técnica pouco utilizada. Como leio muito e nem sempre conseguia comprar todos os livros que gostaria, o pessoal começou a me enviar alguns pelos correios. Recebi muita coisa do Paulo Leminski, do Jorge Amado e outros escritores.
A Razão – O que o Josué consome de literatura?
J. Rowstock – Costumo ler três livros ao mesmo tempo, um romance, um de poesia e um de crítica. Mas leio muita mídia alternativa, como alguns jornais de esquerda, além dos materiais que recebo. Meu apartamento está lotado desses materiais. Em relação aos livros, vou de [Charles] Bukowski até Machado de Assis, adoro o Millôr Fernandes, e leio muita literatura Cyberpunk. Também leio autores novos, mais desconhecidos. Parece que há uma resistência com os novos, mas é necessário incentivá-los. Veja as listas de livros para o vestibular. Geralmente só os clássicos, que também devem ser apreciados, claro, mas onde estão os autores novos?
A Razão – E como o Febre de Rato se encaixa nesse cenário onde, a teu ver, novos autores são necessários?
J. Rowstock – Quero abrir portas para novos escritores. Tem muita gente boa por aí que não sabe como fazer. Inicialmente eu fiz tudo por minha conta, postava no Facebook todos os dias, fazia colagens poéticas nas ruas (e só não fui preso uma vez por que o policial curtiu meus poemas), entrei em grupos virtuais de poetas para apresentar meu trabalho, mandei textos para vários meios de comunicação. A [revista] Carta Capital publicou um artigo meu. Os autores marginalizados precisam ganhar voz.
A Razão – E a expansão do Febre de Rato se deu de que maneira?
J. Rowstock – Quando senti que já tinha um público, montei um livro e larguei na internet. Mas fiz muita ação direta, também, distribuindo poesias em bares e nas ruas. Um dia, realizei um café poético, um sarau, em uma livraria daqui. Foi bem legal, muita gente compareceu e, depois de algumas tentativas frustradas em tentar publicá-los, recebi a ajuda do [professor de literatura e escritor santiaguense] Giovani Pasini. Três editoras se interessaram e agora terei publicado meu primeiro livro, “Lágrimas de Peixe”, ainda no primeiro semestre de 2014. A ideia é lançar ele na Feira do Livro de Santa Maria. Além disso, entreguei uma cópia simples do livro para o [cartunista] Carlos Latuff e para o [jornalista e apresentador] Serginho Groisman. Os dois me elogiaram, foi muito legal.