Há 22 edições, a Tertúlia Musical Nativista é um patrimônio cultural de Santa Maria. Sua contribuição para com artistas e comunidade é inestimável, dado o número de canções consagradas que o festival já revelou. Esse sucesso serviu de incentivo para que fosse criada a Tertúlia da Poesia de Santa Maria, cuja primeira edição ocorre amanhã, a partir das 20h, no Theatro Treze de Maio. A Secretaria de Cultura de Santa Maria realiza o evento juntamente com o Galpão da Poesia Crioula e o CPF Piá do Sul.
Mais do que apenas se espelhar no bem-sucedido evento co-irmão, a nova Tertúlia tem como principal objetivo suprir uma grande demanda. “Existem poucos festivais de poesia no Estado, nenhum na região. Santa Maria merecia muito ter um evento assim”, explica um dos idealizadores e coordenador geral do festival, Carlinhos de Lima, animado com a repercussão obtida até o momento. “A Tertúlia da Poesia já nasceu grande. Tivemos 325 trabalhos inscritos, todos de excelente nível. É uma pena que muitos acabaram ficando de fora”, comenta Carlinhos, que acredita que o grande número de inscrições depõe a favor do evento. Foram selecionados 12 trabalhos finalistas.
Além da qualidade das poesias selecionadas, o coordenador chama a atenção, também, para os nomes envolvidos no projeto. “Tivemos participação de poetas reconhecidos no cenário da poesia no Rio Grande do Sul. Conseguimos uma equipe de jurados de renome, que trabalham há tempos nessa área”, afirma. A Tertúlia da Poesia recebeu trabalhos de outros estados e até mesmo do exterior, como Argentina e Uruguai. Carlinhos vê na continuidade do evento uma oportunidade não só para artistas consagrados no meio, mas para quem está começando e, sobretudo, quem tem pouco contato com a poesia. “A ideia é promover a interação desses artistas com a população, incentivar para que possam apreciar essa arte”, diz.
Empolgação entre os participantes – Quem dará corpo à 1ª Tertúlia da Poesia está igualmente animado. A ausência de eventos desse gênero no Centro do Estado fez com que a vontade de fazer parte desta edição pioneira fosse ainda maior. Membro do Galpão da Poesia Crioula e com poesia selecionada para concorrer, Juliano Costa dos Santos não esconde a animação de quem já participou de festivais em outras cidades, mas torcia pela realização de um com a cara da região. “Tem sido muito interessante, era um sonho antigo nosso, do Galpão da Poesia. Não tínhamos recursos, mas finalmente conseguimos”, relembra Juliano, que concorrerá com a poesia “Dom Divino”, sobre uma mãe grávida que conversa com seu filho, ainda no ventre.
O poeta Carlos Omar Villela Gomes inscreveu na Tertúlia a obra “Toda Gente Que Eu Conheço”, sobre relações humanas sob o prisma da igualdade. “A ideia é mostrar como as diferenças são criadas por nós mesmos. Somos todos iguais em essência”, explica o autor. Para ele, a realização de um grande evento voltado à poesia se fazia necessária em Santa Maria. “Entendo que é mais um palco nobre que se abre para a poesia gaúcha. Precisávamos de algo dessa grandeza, e me sinto honrado em fazer parte desta história bonita”, reitera Carlos, que terá como “concorrente” ninguém menos que sua esposa, Bianca Bergman, que assina, junto com Rodrigo Bauer, o poema “O Duelo”.
Segundo a poetisa, no entanto, não há rivalidade alguma. “Tem sido normal isso, em muitos festivais a gente acaba concorrendo um contra o outro, mas é bom dividir o palco com ele”, afirma Bianca, cujo trabalho traz um curioso tema. “Trata-se de um poeta brigando com sua poesia. Às vezes a gente idealiza um poema e, quando começamos a escrevê-lo, toma um rumo diferente”, conta.